Perguntas de Investigação - Sistema de Keyline

Perguntas e Respostas sobre o Sistema Keyline

 Versão (de trabalho) actualizada a 30/05/2023
Por: André Vizinho, Eva Barrocas, Miguel Encarnação e Marta Cortegano


 1.       Aspectos Financeiros 

    1.1 Qual o custo do arado Yeomans? Que fabricantes do arado existem? Onde comprar e o que ter em conta?

       Há várias versões do arado similares ao arado do Yeomans e com várias componentes que condicionam o preço como sejam: quantos dentes tem a alfaia, se tem hidráulico para cada arado (mais caro mas permite levantar cada braço) ou para o conjunto (mais barato), se tem semeador ou não e se tem ou não depósito para fertilizante. 

        A marca original do arado Yeomans pode ser consultada no seguinte site onde se podem ver diferentes modelos do arado com os preços respectivos (fundo da página): https://yeomansplow.com.au/1-red-book/ . Esta marca envia para todo o mundo, tendo o orçamento que sido obtido perto de 50000€ para o arado com transporte.


 

        A marca HeVa apresenta vários modelos de subsoladores semelhantes ao arado Yeomans nomeadamente o que se pode observar no seguinte link e que foi adquirido pela CM Mértola no âmbito projecto Pastagens Regenerativas https://www.he-va.com/en/products/subsoilers/grass-tiller. Neste link pode-se ler numa tabela qual a potência do tractor necessária para cada arado. Para o  modelo 3.0, (em utilização no projecto) com 3m de largura com 3 dentes é necessária uma potência de 90-120cv.


 

   O arado adquirido pela Câmara Municipal de Mértola para o projecto Pastagens Regenerativas em 2021 teve o custo de cerca de 12000€ , é fabricado pela HeVa (HeVa Grass Tiller) tem três arados, três rolos individuais, disco e hidráulicos. Não tem semeador e é especificamente desenhado para pastagens permanentes. O seu funcionamento pode ser visualizado no seguinte video promocional: https://www.youtube.com/watch?v=iCT2dN2KZNk. O arado utilizado pela Herdade das Defesinhas, por Manuel Die é também fabricado pela HeVa, foi comprado pelo valor de aproximadamente 3500 euros (comprado há aproximadamente quatro anos) e é um arado mais simples, apenas com um hidráulico, dois braços, um rolo. Para adquirir um destes arados em Portugal pode contactar a empresa Nueva Casa Grande (https://www.nuevacasagrande.com/ ). Os dois arados adquiridos pela Câmara de Mértola estarão em breve disponíveis aos agricultores do território por aluguer.

A empresa Galucho tem um subsolador com bicos de arado oblíquos (subsolador SRG 306) (ver foto abaixo), diferente do Yeomans mas com algumas semelhanças e ainda não testado neste projecto para o mesmo fim. Sem rolo tem um preço de venda ao público de 4500€ (3 metros largura) a 7500€ (4 metros largura). Com rolo adicionam-se a 4 a 5 mil euros.

 

1.2.    Podem-se usar equipamentos já existentes que possam ser adaptados?

        A mobilização com outras alfaias pode ser feita de acordo com o design em Keyline, ou seja com um declive de cerca de 1,5-2% das linhas de água (talvegues) para as cumeadas (linhas de festo). A utilização das alfaias nesta orientação irá promover o controle de erosão e a movimentação da água no sentido pretendido, mas terá menos eficiência em vários aspectos dependendo da alfaia utilizada. Um dos principais benefícios do desenho do arado Yeomans é do abrir sulcos no solo por onde a água se infiltra, criando também espaço para o aprofundamento das raízes mas sem destruir as camadas do solo, sem o expôr ao sol e sem destruir praticamente nada as pastagens permanentes. Outros arados que abram sulcos mais largos como o ripper podem conseguir partir a rocha (ao contrário do arado Yeomans que é mais frágil) mas destroem mais pastos e alteram a estrutura do solo. Em algumas situações onde, pode ser recomendado outro arado que não o de Yeomans, nomeadamente para a instalação de árvores.

 Existe também a possibilidade de construir a sua própria alfaia à imagem do arado de yeomans. 
Os irmãos Pedro e Juan Luis Dominguez, em Mundos Nuevos, fizeram a sua própria alfaia como se pode ver na fotografia abaixo. 
Ao contrário do hidráulico usaram molas nos braços. 
Os braços do arado são, como devem ser, estreitos, para evitar muito estrago no solo e além disto criaram um bico sólido de menor desgaste. 


Arado de semelhante a Yeomans feito para uso próprio em Mundos Nuevos. Fotografias de Miguel Conceição

 

1.3.    Qual o custo da topografia? Posso fazer eu próprio? 

        Para planear a implantação das linhas em keyline no terreno são necessários uma série de passos: 1)levantamento topográfico, 2) desenho do projeto a computador, 3) marcação das linhas no terreno. O valor da topografia varia acima de tudo com a área e com a tecnologia usada. A título de exemplo, para uma área de 50 hectares, um voo de drone seguido de desenho a computador e marcação das linhas no terreno pode custar cerca de 30 euros/hectare. Para áreas maiores os custos fixos diminuem, e para, por exemplo, uma área de 200 hectares os custos seriam de aproximadamente 10 euros/hectare (segundo um topógrafo consultado).
        Em alternativa, as linhas mestras em Keyline podem desenhar-se directamente no terreno, usando para tal alguns métodos expeditos como um nível laser (solução usada no projecto Pastagens Regenerativas pela equipa Terra Crua Design: https://www.terracruadesign.com/ ) ou em alternativa mangueira de nível (método para áreas menores) sendo no entanto difícil de planear de antemão as zonas de ajuste e a distância entre as linhas.
     Em Mundos Nuevos, após a aplicação em La Zapatera do arado yeomans e da construção de valas em keyline e charcas com consultor, os irmãos Pedro e Juan Luis Dominguez fizeram eles próprios, com olho treinado e sem topografia aplicação do arado em keyline na propriedade de Mundos Nuevos, em cerca de 300 hectares. O resultado não foi ainda monitorizado por terceiros, excepto com visita guiada ao local, mas segundo os próprios o resultado foi bastante positivo, tendo-se eliminado a erosão e obtido uma homogeneidade das pastagens na propriedade. Este olho treinado é algo que requer bastante experiência pois é bastante fácil cometer erros grosseiros. 

1.4.    É possivel obter financiamento para estas técnicas, por exemplo com PDR2020 ?

        A plantação em curva de nível é enquadrada nos financiamentos PDR 2020. De acordo com a informação disponível até agora, a plantação com desnível de 2% não é. O arado pode ser referenciado como outro subsolador.O PDR contempla medidas de apoio à construção de charcas (Operação 3.2.1 – Investimento na Exploração Agrícola “Construção de Charcas”) o que pode ser um interessante acrescento ao plano de retenção de água de uma exploração pecuária, como vimos em Mundos Nuevos. 

 

1.5.  Como monitorizar o aumento do carbono no solo para os créditos de carbono? Como candidatar em caso positivo ?

        Existem algumas empresas que monitorizam o carbono no solo. Neste momento não existem apoios do Fundo Ambiental para o sumidouro de carbono no solo. O mercado de carbono voluntário está a crescer, sendo possível valorizar o sumidouro de carbono através de várias empresas. A organização Climate Farmers apresenta já uma proposta de valorização do carbono da escala da propriedade. https://www.climatefarmers.org/

 

1.6.    Vale a pena fazer o cultivo de cereais em keyline? 

        Valer a pena implica conhecer o balanço entre os custos de investimento (ex. design + alfaia), custos de implementação e as receitas. Estes custos devem ser comparados com outras formas de cultivo de cereais, nomeadamente com a técnica da sementeira directa que normalmente não é feita nem em curva de nível nem em keyline. Este estudo comparativo não está feito ainda. Na formação sobre keyline, o Jesus R. referiu que a marca HE-VA tem já arados com espalhador de semente, para quem quiser experimentar sementeiras em keyline, pode ser interessante. A utilização de um semeador directo convencional, usando as curvas de nível ou 2% de desnível é também uma das opções.

 

1.7.    Qual a relação Custo/benefício do keyline design e da aplicação do arado para o melhoramento das pastagens?

    Uma análise custo benefício inclui, além dos investimentos, custos de implementação, receitas e outros benefícios. Esse estudo ainda não está feito. É interessante referir que a relação custo-benefício dependerá de alguns aspectos como: Qual o aumento de produção gerado pela utilização do Keyline design? Qual o valor a que se vende o produto agrícola que beneficiou com o Keyline design? Quais são os outros benefícios e qual o seu valor? Estamos a usar e analisar apenas o arado em Keyline ou estamos a aplicar o Keyline  design no seu todo, nomeadamente o desenho hidrológico da propriedade para aumentar a retenção de água com estradas, charcas, valas, arado,etc? Uma análise custo benefício completa e bem feita inclui o valor do custo e benefício no futuro, o que implica incluir outros valores como valores de uso futuro (do solo, por exemplo), valores de não uso (como por exemplo do carbono e do benefício ambiental pelo seu sumidouro). 

    A equipa da 2Adapt (http://2adapt.pt/) realizou uma análise de solos e imagens de satélite à Herdade das Defesinhas e comprovou estatisticamente que uma zona de pastagens permanentes onde foi aplicado o arado de Yeomans em Keyline obteve maior disponibilidade de água (menor stress hídrico) e maior atividade vegetativa (melhor índice de vegetação) do que a zona de controlo, também com pastagens permanentes.
 

Veja o relatório “Pastagens Regenerativas – Herdade das Defesinhas - Avaliação do impacto da implementação do Keyline na regeneração das pastagens” (pdf, 1,6 mb) no seguinte link:
https://www.researchgate.net/publication/360683077_PASTAGENS_REGENERATIVAS_RELATORIO_TECNICO_Avaliacao_do_impacto_da_implementacao_do_Keyline_na_regeneracao_das_pastagens

Para Manuel Die, o sistema de keyline é uma ferramenta para ativar os solos, um starter do ecossistema. O Manuel aplicou o arado há quatro anos e da sua experiência a melhoria dos solos com uso do keyline é mais visível quando os solos são muito fracos.

 

1.8.    Quais os custos de instalação e de manutenção?

        Os custos de instalação (excluindo a topografia e design) compreendem essencialmente a marcação das linhas mestras com charrua e a passagem do arado. Por exemplo, para marcar com charrua as linhas mestras em 30 hectares no Mte. do Seixo foram precisas 25 horas.A aplicação do arado GrassTiller da HeVa no Monte do Seixo originou um desgaste total dos bicos do arado após 25 hectares, o que obriga à sua substituição e compra deste material de reposição.Em Mundos Nuevos, além da passagem do arado em keyline foram feitas charcas que são alimentadas não apenas pela água da sua bacia de retenção directa mas também por água de outras zonas que é captada e transportada por valas e cômoro com cerca de 50cm de altura e com 3% de desnível direccionando para as charcas. Cada uma desta charcas com cerca de 20 metros de diâmetro e 2,5 metros de parede custou apenas cerca de 5 horas de máquina. Nas zonas com solos argilosos o resultado foi bastante positivo com as charcas cheias mas na zona de solos mais porosos as charcas não retêm água.



Charca e vala e cômoro com desnível de 3% aproximado em Mundos Nuevos. Fotografias de Miguel Conceição 

 

2.       Solos

2.1.    Como aplicar keyline em solos muito pedregosos? 

        Para aplicar o keyline em solos muito pedregosos deve-se escolher um arado que tenha vários níveis de proteção contra pedras, caso contrário o arado pode partir. Os vários níveis de proteção podem ser parafusos de segurança ou um sistema hidráulico de libertação automática (melhor). O sistema hidráulico apresenta a proteção mais completa para terrenos muito pedregosos. A primeira aplicação do arado GrassTiller da He-Va no Monte do Seixo, em Castro Verde, com alguns solos esqueléticos e muito rochosos, partiu uma peça de suporte do bico do arado após poucos minutos de aplicação. O hidráulico do tractor estava fixado para 160bar de acordo com o manual de utilização que sugere um valor de 120 a 160bar. Após substituição da peça e após conversa com o fornecedor reduziu-se o valor para 100bar e a utilização decorreu em 25 hectares sem qualquer problema. Devido ao tipo de solo e presença de rocha, a utilização do arado deve ser feita a uma velocidade bem menor do que a que se pode observar no vídeo promocional acima.

Os braços do arado devem ter no mínimo 1 polegada de espessura, caso contrário podem partir facilmente nas primeiras utilizações.

 

2.1.1. O que se pode incorporar no solo durante a execução do processo?

        O que se pode incorporar no solo depende do equipamento disponível. Existem equipamentos para semear nas linhas de passagem de keyline ou para aplicar biofertilizante. Pode ser interessante fazer correções de solo quando se faz a implementação do keyline. Em Mundos Nuevos, em alguns locais, após a passagem do arado foram colocadas bolotas de azinheira na linha, tendo o cuidado para não ficarem demasiado profundas.


2.2.    Em terras muito delgadas, será que o arado é adequado? 

        Na experiência na Herdade das Defesinhas, os solos são delgados e os resultados do estudo realizado (ver acima) mostram que existe utilidade e benefício. O gestor da Herdade das Defesinhas refere precisamente que considera existir maior valor acrescentado na utilização deste arado em terrenos delgados (Ver informação acima).    Na experiência das Mundos Nuevos em alguns locais os solos também são bastante delgados e a conclusão dos gestores e proprietários é também de que compensa e vale a pena fazer em solos bastante delgados.

      

2.3.    Será que o arado consegue lidar com um afloramento rochoso perpendicular à linha de nível? 

        Em afloramentos rochosos muito protuberantes o arado não deve ser passado. Levanta-se o arado antes do afloramento rochoso e continua-se depois de este acabar. O hidráulico faz também esta função.

 

2.4.    É necessário fazer alguma preparação prévia do solo ou do coberto? 

        Sim, deve-se esperar que o solo tenha uma cobertura de ervas, viva ou morta, ou seja, não é aconselhável passar o arado em terrenos desestruturados que tenham sido lavrados recentemente. Segundo Jesus R. em solos argilosos pode ser importante semear culturas que possam romper os blocos de argilas e semear 1 ano antes.  Num solo argiloso pode ser útil passar o arado antes da chuva e não depois, se for possível. Solo muito arenoso pode não fazer sentido passar o arado (por já ter muita percolação). Solos muito arenosos desgastam muito os dentes do arado.  

 

2.5.    Qual o mínimo de profundidade a que o arado pode passar? 

    A decisão sobre a profundidade da passagem do arado deve ser feita em função da profundidade das raízes das plantas no campo. A profundidade de passagem do arado deve ir até ao dobro do comprimento destas raízes mas sem perfurar a rocha (Jesus R., 2013).

 

3.       Holístico  

3.1.    Como compatibilizar keyline estrutural e keyline plantação

    A plantação deve respeitar as linhas mestras em Keyline que estruturam também toda a mobilização e transporte que são feitos no terreno.

A título de exemplo, para o Monte do Seixo, a TerraCrua Design elaborou para a propriedade um design estrutural de acordo com a escala da permanência de Yeomans, que inclui o desenho de estradas em keyline e barragens em keypoints, plantação de árvores em locais estratégicos, entre outros. Este plano pode ser consultado no seguinte link: https://www.terracruadesign.com/post/entrega-do-projecto-monte-do-seixo 

 

     

3.2.    É possível implementar o Keyline no Montado? Quais as condições necessárias, técnica a usar e recomendações? 

      A passagem do arado tipo yeomans no montado não é aconselhável numa distância inferior a 2,5 vezes o diâmetro da copa dos sobreiros ou azinheiras pois esta é a extensão das suas raízes pastadeiras, responsáveis pela absorção de cerca de 30% do seu consumo de água (Dinis, 2014). No entanto, esta pode ser feita, desde que fora dessa área. O keyline pode, no entanto, ser utilizado para implantar novas áreas de montado ou melhorar as zonas de pastagens permanentes existentes em zonas de pouca densidade de árvores.

 


3.3.    Como adaptar a culturas já instaladas? (Ex. projectos florestais e vinha) 

    É difícil adaptar a utilização do arado em keyline a projetos já instalados. O ideal é implementar em projetos que se façam de novo. No entanto um keyline design geral ou desenho hidrológico da paisagem pode ser aplicado a projectos já existentes para desenhar lagos, reformular caminhos e nas zonas de menor densidade e uso, planear novas instalações de plantas ou mobilizações em keyline.

 

3.4.    Se o terreno for muito plano os benefícios do keyline ainda compensam a sua implementação?

    O keyline tem essencialmente três funções: descompactar o solo, infiltrar a água e encaminhá-la das zonas de maior acumulação para zonas de menor acumulação (Jesus R., 2013). Se o terreno for plano e não tiver nenhuma linha de água proeminente torna-se difícil cumprir a última das funções por não haver o efeito da gravidade. No entanto, descompacta, melhora a infiltração da água e promove a criação de raízes mais fundas pelas plantas.    Na opinião de Pedro Dominguez de Mundos Nuevos, não compensa aplicar o arado nessas situações planas onde não existe erosão e onde à partida já os solos são um pouco melhores.


3.5.    Devemos começar por planear a propriedade em função da água (usando o Keyline) ou em função dos pastos (usando o Maneio Holístico) e depois então pensar a água? 

     Qualquer plano, seja de Maneio Holístico ou de Keyline deve ir de encontro aos objectivos definidos para a propriedade / herdade/ quinta/ exploração agrícola ou agroflorestal. Tanto a boa gestão da água como a boa gestão das pastagens são ferramentas para o alcance destes objectivos. De acordo com a experiência de Mundos Nuevos, as vedações devem ser a direito, mais quadradas e menos rectangulares e não de acordo com o keyline, para assim reduzir o perímetro de vedação. Cada parcela deve, se possível, ter uma charca e se tal não for possível ter um depósito em altura a partir do qual se possam alimentar os bebedouros com bóia. 

4.       Gestão      

4.1.    Quantidade de vezes aplicar o arado yeomans para plantação e para pastagens? 

        Na literatura lê-se que se devem passar 4 vezes na mesma parcela ao longo de 2 anos (1x no Outono e 1x na Primavera) aprofundando 10 cm de cada vez (Jesus 2013). A Herdade das Defesinhas utilizou a passagem do arado essencialmente para dar um empurrão inicial a áreas de pastagem muito degradadas, sendo o resto do trabalho feito pelo gado em conjunto com as gramíneas perenes. A lógica será fazer uma passagem em cada parcela até que todas as parcelas com aptidão para receber keyline estejam feitas, e só a partir daqui iniciar as segundas passagens. 

    Na herdade de Mundos Nuevos também aplicaram o arado em keyline apenas uma vez, considerando que não há grande necessidade de voltar a passar no curto prazo.

 

4.2.    Como gerir tempos de keyline e gado?

    Segundo Manuel Die, na Herdade das Defesinhas, após a passagem do arado os animais devem ser excluídos da parcela por pelo menos 1 mês para dar tempo às plantas de se adaptarem às novas condições. Depois disso pode-se entrar com o gado, mas deve-se ter em conta que cargas animais muito grandes e muito prolongadas fazem o solo compactar novamente e os efeitos do keyline desaparecer. De realçar que em solos argilosos as linhas do arado podem fechar por isso ter atenção para que o gado não acelere este processo. Também na experiência de Mundos Nuevos se deve esperar algum tempo, após a passagem do arado de yeomans, para que as ervas e as pastagens se recomponham. Este tempo depende de vários factores. Sobre as valas e cômoro, os animais podem pisar sem grande problema se elas não foram demasiado fundas.

 

4.3.    Que manutenção é necessária?

  A marcação inicial das linhas mestras deve ser bem feita, de forma a que estas não venham a desaparecer com o crescimento da erva. Isto assumindo que se pretende voltar a passar o arado em keyline. Se existirem valas e cômoro em keyline, estas podem servir como referência.


    No caso de Mundos Nuevos e também a Herdade das Defesinhas, como não voltaram nem tencionam voltar a passar o arado nos anos seguintes, não preservaram as linhas marcadas no terreno. É também relevante referir que durante os primeiros anos o desenho das linhas do arado pode conseguir observar-se em alguns locais devido à diferença da vegetação.

 

4.4.    Quais os critérios para escolher o momento certo para passar o arado?

        A passagem do arado deve ser feita preferencialmente no Outono de forma a minimizar o risco de deixar os sulcos abertos e expostos ao sol e vento. No caso de se fazer na primavera e depois não chover, estamos a deixar sulcos abertos que ainda secam mais o solo. Outro fator de extrema importância é a condição de humidade do solo. Para passar o arado, o solo deve estar no ponto de sazão.

 

4.5.    Existe habilitação ou formação necessária para usar o equipamento? 

        O arado tipo yeomans, especialmente os com componentes hidráulicas, só devem ser operados por profissionais experientes no manuseamento de máquinas agrícolas. Aconselha-se vivamente a ler o manual de instruções que vem com a máquina de forma a evitar acidentes e estragos na máquina. A leitura do manual pode não ser suficiente. A experiência da utilização do arado Grass Tiller da HeVa no Monte do Seixo mostra que a pressão do hidráulico deve ser de 100bar (no manual o valor de utilização é 120a160bar mas o valor de 160bar originou o não levantamento do braço em todas as situações necessárias o que originou a fractura de uma peça do braço). É importante assim existir uma transferência da experiência acumulada pelos anteriores utilizadores no terrenos e tipos de solo do Alentejo.

 

4.6.    Vantagens e Desvantagens do Keyline design e do arado?

As desvantagens são essencialmente o custo da sua aplicação. Ver custos acima. Se o desenho das linhas de Keyline for mal feito ou especificamente com esse objectivo, podem originar-se zonas com água a mais no terreno, ou seja zonas com encharcamento, o que pode originar alterações no uso do solo.

As vantagens, no que diz respeito às pastagens permanentes, são a maior disponibilidade de água no solo, maior crescimento das pastagens, mais profundidade das raízes e maior resistência das plantas à seca, maior sumidouro de carbono, maior potencial para suporte a uma maior diversidade de espécies de pastagens e de vida no solo.

4.7.    Quais as mais valia do Keyline face a outras técnicas? Vantagens e desvantagens? 

O Keyline inclui o design estrutural hidrológico da paisagem e portanto uma maior capacidade da paisagem de acumular água mas também de gerir extremos hidrológicos, como cheias e secas. A aplicação do arado de Yeomans em Keyline é uma das ferramentas do Keyline e combina um arado com um desenho específico com a sua aplicação de acordo com as linhas em keyline. O Keyline é portanto uma abordagem ao design e planeamento da paisagem combinado com várias técnicas. As técnicas, nomeadamente diferentes tipos de arados têm efeitos diferentes consoante a abordagem e fins com que são utilizados. 

Se compararmos A com B, sendo A) a aplicação do arado subsolador de Yeomans de acordo com as curvas de Keyline e sendo B) a aplicação de um outro subsolador de acordo com as curvas de nível, as mais valias serão, em teoria, as seguintes: 

» Mais pastos disponíveis devido a uma menor destruição das pastagens permanentes previamente instaladas;
» Melhor penetração da água no solo devido à forma do sulco criada pelo arado Yeomans que mantém a estrutura do solo mas abre um sulco directo;
» Maior distribuição da água no solo, aumentando disponibilidade de água no solo e reduzindo erosão nas zonas de escorrimento / linhas de água temporárias e reduzindo ou aumentando encharcamento e alagamento nas zonas de vale conforme for planeado.

O design estrutural em Keyline, utiliza ainda outras ferramentas como as barragens, charcos temporários, valas e cômoro e estradas que podem ser essenciais e muito benéficas para conseguir atingir os objectivos do design.

 

4.8.    Qual é o trade off de uma plantação de árvores em keyline, há maior retenção de água? As árvores em keyline melhoram o rendimento hídrico mesmo com evapotranspiração?

 

4.9.   Qual o aumento da produtividade?

     No caso de Mundos Nuevos a resposta a esta pergunta foi de que obtiveram uma homogeneidade das pastagens ou seja as zonas mais fracas (cumeadas) passaram a produzir como as boas zonas (linhas de água). Consideraram assim que o resultado de aumento de produtividade e diminuição da erosão foi obtido com uma única passagem do arado. Adicionalmente, com as charcas e valas e cômoro conseguiram capturar água da chuva e ter água disponível todo o ano, reduzindo assim os custos de transporte de água, bem como possibilitando o pastoreio dirigido e a permanência dos animais em diferentes partes da propriedade.

5.       Planeamento                    

5.1.    No desenho Keyline dos caminhos e estradas, quando faz sentido investir em novos? O que fazer com os antigos? 

 Um investimento deve ser ponderado face à sua rendibilidade e análise custo benefício. Benefícios  podem ser a diminuição do custo da água, custos de arranjo de estradas mas também os benefícios para o valor da propriedade, para a paisagem, biodiversidade, ecossistema, entretenimento, segurança para combate a incêndios, entre outros. Do ponto de vista económico, pode fazer sentido mudar apenas alguns caminhos e não todos os que potenciam o aumento da resiliência da paisagem. Os caminhos antigos devem ser repostos em zonas produtivas, usando ripper se possível para diminuir a sua compactação, aquando de plantações, por exemplo.

5.2.    Há topografias/declives que inviabilizam o keyline?

        O keyline pode ser feito até à inclinação máxima à qual um tractor com rodas possa ir. Esta inclinação depende do tractor e pode ser calculado de acordo com as medidas do tractor (Varella e Junior 2008) mas um valor máximo é de cerca de 23% . No caso de se usar o arado montado num tractor de rastos então este pode ser utilizado no máximo até aos 40% de inclinação.

Esquema de comparação de graus e percentagem. Fonte: Lancaster 2010

 

5.3.    Quando é efectuada a análise topográfica?

 A análise topográfica deve ser feita antes do planeamento. Se a propriedade tiver muito esteval e estiver planeada a gestão de combustíveis, a análise topográfica deve ser feita após esta acção de gestão de combustíveis pois beneficia a qualidade do modelo digital de terreno obtidon por drone, ou mesmo os movimentos do topógrafo no terreno.

5.4.    Se o terreno for muito plano, será necessário fazer o levantamento topográfico ou pode-se só passar?

    Depende. Se o terreno for, por exemplo, uma várzea baixa entre dois montes intervencionados, então esta parcela acaba por fazer parte do desenho e faz sentido fazer o levantamento topográfico. Se o terreno não estiver inserido em nenhuma linha de água então não será necessário fazer levantamento.

 

5.5.    A passagem do arado tem de ser sempre contínua? 

    De preferência será sempre contínua, sim. Ou seja o ideal é conseguir passar com o arado no máximo de área possível. 

            Para Jesus R. as linhas devem ser definidas consoante o planeamento do sistema de keyline, por   exemplo que tipo de maquinaria irá ser utilizada no futuro e se no caso de ser uma plantação se irá ser semeado e colhido o feno na entrelinha. Nesta escolha da largura da linha será importante ter atenção à topografia, ao tipo de ocupação do solo e da cultura e os custos de implementação. Quanto maior o declive e mais irregular for o terreno, mais próximas devem ficar as linhas mestras.

 

6.       Vegetação

 

6.1.    Se o terreno tiver muito mato pode-se passar o arado? Como reage o arado às raízes do mato?

        Não é aconselhável passar o arado em zonas de mato. É aconselhável usar outras técnicas para a transformação em floresta autóctone ou em pasto perene.

 

7.       Água

          

7.1.    Que acontece se chover tanto que os regos de keyline saturam de água? Pode destruir e erosionar o solo?

        A saturação do solo com água pode acontecer em alguns locais pois a retenção de água na paisagem é aumentada. Para que não aconteça o planeamento deve ter em conta esta possibilidade e adoptar medidas de prevenção / adaptação ao encharcamento. Estas medidas podem incluir a construção de lagos ou desvio de água em excesso para cumeadas e/ou outras subbacias e lagos. A erosão não é provável de acontecer uma vez que a água é direcionada para as cumeadas e caso transborde de uma das fendas deixadas pelo arado, encontra logo a seguir outra e outra e outra e por último uma vala feita com charrua, pelo que não se espera que haja erosão.

 

8.       Monitorização     

 8.1.    Como se monitoriza os resultados, biodiversidade, proteína, água?

 

9.  Perguntas do 2º Workshop

● Vale a pena cultivar cereais em keyline?

É benéfico cultivar cereais em Keyline. A lavra e a gradagem dos solos no sentido da pendente promovem a erosão e o escorrimento superficial da água, criando grandes zonas de acumulação de água nas zonas baixas, pouca infiltração nas partes altas e significativas perdas de produtividade com o evoluir dos anos. Pelo contrário, o trabalho do solo (mesmo sem a utilização do arado de keyline) em keyline ou curva de nível previne a erosão, dificulta o escorrimento superficial da água, infiltrando-a mais e de forma mais homogénea. Não é claro, ou não existem ainda estudos conhecidos que mostrem se o cultivo com 1% a 20% de declive tem efeitos significativamente maiores do que em curva de nível.

● No caso de ter o arado apenas por uns dias e não ter tempo para usar em toda a propriedade, é melhor passar o arado numa área menor com maior densidade de linhas ou numa área maior com menor densidade de linhas?

Depende dos objetivos de cada pessoa. Poderá ser interessante passar o arado com menor densidade se quisermos travar a erosão e infiltrar a água na maior área possível, uma vez que o efeito mais visível do keyline até agora é na redução acentuada ou eliminação da erosão do solo. Porém se o nosso objetivo for melhorar uma zona específica particularmente degradada, pode-se passar com maior densidade.

● Como melhor gerir a partilha do arado (da C. M. Mértola) entre agricultores para que todos possam usufruir do arado no melhor momento de passagem?

Os dois arados da C.M de Mértola são actualmente geridos pela Estação Biológica de Mértola, com o objectivo de agilizar o seu acesso e utilização pelos agricultores do território.

● Podemos aproveitar a passagem do arado para introduzir factores estimulantes que possam ajudar o crescimento e proliferação da estrutura do solo?

Sim. Dependendo da marca estes acessórios são ou não fornecidos como um conjunto. A alfaia da marca He-Va que foi utilizada no projeto não dispõe destes acessórios que possam ser acoplados ao arado. Pelo que para realizar este trabalho teria de ser com uma passagem posterior com outra máquina que fizesse o mesmo efeito.

● Devo primeiro concentrar-me no keyline ou implementar primeiro o maneio holístico?

O enquadramento do trabalho em keyline, por Ken Yeomans, é apelidado de escala da permanência. Esta descreve uma relação entre a permanência dos elementos no território e a dificuldade de alteração dos mesmos, sendo que os elementos que ficam mais tempo na paisagem e são mais difíceis de alterar (clima, topografia, água) são os primeiros a serem tidos em conta e trabalhados. E só depois os elementos mais fáceis de alterar e que ficam menos tempo na paisagem (estradas, árvores, estruturas, vedações e subdivisões). Ou seja, segundo a escala da permanência, teoricamente a resposta a esta pergunta seria que se deveria implementar primeiro o keyline estrutural e só depois o maneio holístico.
A realidade do dia a dia é bem distinta. O custo de investimento para implementar um projeto de keyline estrutural é elevado e é impossível para a maioria dos agricultores implementar tudo de uma vez. Se o/a agricultor/a já estiver e gerir gado, então deve começar por implementar o maneio holístico, uma vez que tem uma melhor relação de custo benefício, entre o dinheiro investido e os ganhos ambientais e económicos. O keyline deve ser feito a longo prazo e faseadamente, mas a par com o maneio holístico, dando primazia às zonas mais prioritárias (maior erosão, menos acesso a água).


● Que oportunidades existem e como funciona o mercado de carbono? Que sistemas de homologação existem?

O Governo de Portugal apresentou a 10 de Março de 2023 uma proposta de regulação do Mercado Voluntário de Carbono em Portugal. Esta apresentação pode ser lida no seguinte link. A proposta de lei que foi sujeita a consulta pública pode ser consultada no seguinte link.

● Na passagem do arado devo passar com que frequência e a que profundidade?

Sabemos que a profundidade de trabalho no primeiro ano deve ser 5 cm abaixo do nível das raízes das plantas (aproximadamente de 20 cm de profundidade), e que ao longo do tempo se deve ir afundando 2 a 7 cm por ano/passagem (Línea Clave, 2023). Quanto à frequência da passagem ainda não temos dados suficientes para arriscar uma resposta.

● Como fazer a preparação do solo para plantação de árvores em keyline? Deve-se usar arado Keyline ou antes Keyline design estrutural como por exemplo valas e cômoro?

Existem vários projectos que utilizam diferentes técnicas associadas à plantação de árvores em keyline, dependendo também das árvores e da topografia. A valas e cômoro não devem ser usadas a partir de declives muito acentuados que comprometam a sua estabilidade. Por outro lado as valas e cômoro podem ser um entrave para operações de gestão de culturas permanentes. Por outro lado elas aumentam a retenção de água pelo que são frequentemente utilizadas em plantações florestais. A eficácia das técnicas de arado de Yeomans versus valas e cômoro, na retenção de água no solo deverá depender de vários factores como a estrutura do solo, inclinação, etc. Não conhecemos estudos que façam esta avaliação comparativa.

● Como usar água que escorre nos caminhos na estratégia de retenção de água na paisagem?

Existem essencialmente duas formas. A primeira é desenhar e implementar os caminhos em keyline ou redesenhar os existentes, conectando-os com charcas, de forma a que os primeiros conduzam a água para as segundas. A segunda estratégia é a remediação, no caso de caminhos já existentes que sofrem de erosão por serem condutores de água, mas que não se consiga alterar o seu percurso, pode-se fazer valas longitudinais e transversais para, de x em x metros, recolher essa água antes que transborde ou destrua o caminho. Essa água pode ser conduzida por debaixo da estrada por manilhas para a margem e espalhada na paisagem com recurso às diferentes técnicas do keyline design, e assim não comprometer a passagem de veículos, não criar destruição de estruturas e evitar zonas de alagamento.

● É necessária mais informação sobre charcas dentro do sistema de keyline. Quanto custam e qual a legislação?

● Quais os financiamentos para estas técnicas?

 Bibliografia

Fichas técnicas do projeto Ecomontado XXI - http://www.ecomontadoxxi.uevora.pt/fichas-tecnicas/

Linea Clave. (2023). Descripción de la Línea Clave.  https://www.lineaclave.org/web/descripcion-de-la-linea-clave/

Ruiz, J. (2013). Diseñar y cultivar usando línea clave. Ae, nº 12. https://www.agroecologia.net/wp-content/uploads/2013/03/Ae12_Transm-_conoci_vdef.pdf

Dinis, Cati Oliveira. «Cork oak (Quercus suber L.) root system: a structural-functional 3D approach». PhD Thesis, Universidade de Évora (Portugal), 2014. https://www.researchgate.net/publication/320911050_CORK_OAK_Quercus_suber_L_ROOT_SYSTEM_A_STRUCTURAL-FUNCTIONAL_3D_APPROACH.

Varella e Junior 2008, Estabilidade de tractores agrícolas de pneus. URL: http://ufrrj.br/institutos/it/deng/varella/Downloads/IT154_motores_e_tratores/Aulas/estabilidade%20de%20tratores%20agricolas.html

 Lancaster, B., 2010. Rainwater Harvesting for Drylands and Beyond, Volume 2: Water-Harvesting Earthworks. Rainsource Press.



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