Perguntas de Investigação - Pastoreio Regenerativo
PERGUNTAS DE INVESTIGAÇÃO
PASTOREIO REGENERATIVO
Versão (de trabalho) atualizada a 30/05/2023
Por: André Vizinho, Eva Barrocas, Miguel Encarnação e Marta Cortegano
1-Como começar?
Há várias maneiras de começar. Existe um guia passo a passo proposto por Butterfield et al no livro Holistic Management Handbook, descrito em inglês (páginas 94 a 104). Este capítulo não pretende ser um manual de como começar mas sim partilhar alguma informação de como as herdades que visitámos e entrevistámos têm começado no caminho do pastoreio regenerativo. Pontualmente complementamos essa informação com outras fontes e referências.
Alguns agricultores começaram a repensar a sua gestão das pastagens depois de ver a apresentação do Allan Savory no Tedx (link) .
Em síntese das entrevistas e visitas realizadas, o primeiro objectivo deve ser o de reduzir os custos (de alimentação, mobilização, fertilizantes, sementeiras) através da aposta em pastagens permanentes e numa rotação mais frequente dos animais nas parcelas, reduzindo gradualmente o tempo de permanência em cada parcela e aumentando o tempo de repouso de cada parcela. Para tal é necessário aumentar o número de parcelas, nomeadamente utilizando cercas elétricas e tornar disponível a água em cada parcela.
Existem várias formações em Maneio Holístico e também alguns livros sobre o assunto, tal como o “Holistic Management Handbook: Regenerating Your Land and Growing Your Profits” (Butterfield et al., 2019) . Alguns links onde procurar mais informação: http://www.manejoholistico.net/ e http://www.holisticmanagement.org. Um dos primeiros autores a escrever sobre o tema terá sido André Voisin que publicou a “Dinamica de los pastos“ em 1962 (link) , bem como um livro reeditado em 2014 com prefácio de Allan Savory, intitulado “Grass productivity”.
2 - Gado:
2.1 Como definir o encabeçamento tendo em conta as condições do campo, considerando também as condições dos animais (gestação, aleitamento, etc)?
O encabeçamento adequado no maneio holístico/pastoreio dirigido não é definido por um número de animais por hectare por ano, mas sim pelo número de animais-dia por hectare (Butterfield et al., 2019, pp58).
A quantidade de animais-dia por hectare depende da qualidade dos pastos em cada zona (função essencialmente da qualidade do solo e humidade) que é diferente em cada período do ano. Este encabeçamento por dia por hectare é também função da altura dos pastos e da quantidade de tempo necessária de descanso para a sua regeneração e produção de semente. No período de verão, apesar de não existir crescimento, mantém-se a densidade de animais e o encabeçamento por forma a que o pastoreio seja menos selectivo e se prolongue assim a qualidade dos pastos por mais tempo.
Na região de Elvas, no momento da nossa visita (15 de Fevereiro 2022), a Herdade das Defesinhas tinha cerca de 80 vacas (80 animais-dia AD) por hectare, ou seja 80 AD/ha ou ADH. Numa propriedade tinha uma manada de 80 vacas em parcelas de 1 hectare e noutra propriedade tinha um grupo de 240 vacas em parcelas de cerca de 4 hectares por cerca de um dia ou um dia e meio. Como nesta altura o pasto estava muito verde, com muita proteína e pouca fibra (devido à reduzida densidade de pastagens perenes), o pasto estava a ser complementado com palha ou feno para complementar a quantidade de fibra.
Esta contabilização de encabeçamento é diferente da apresentada no Regime do Exercício da Atividade Pecuária em Portugal que apresenta o conceito das Cabeças Normais (CN) que é um valor por hectar/ano (link). Para efeitos de comparação, com uma soma simples, é possível perceber qual o número de CN por hectar/ano na gestão do pastoreio dirigido regenerativo.
Segundo o livro do Holistic Management podem usar-se as seguintes comparações entre animais:
1 vaca = 1 unidade
1 vaca e vitelo =1,5 unidades
1 vitelo desmamado = 0,75 unidades
1 boi = 2 unidades
5 ovelhas/cabras/porcos = 1 unidade
10 borregos/chibos/leitões = 1 unidade
2.3 Quantas cabeças se pode aumentar com a implementação do pastoreio regenerativo?
A utilização da ferramenta do pastoreio dirigido optimiza a gestão das pastagens e pode ainda fazer aumentar a produção forrageira das pastagens. Estes efeitos dependem do estado inicial de cada pastagem bem como de muitos outros factores.
Voisin (1959, pp397) refere que uma propriedade que tinha a produção de 500kg/ha, após rotação planeada em pequenas cercas com apoio de fertilizante passou a produzir 2201kg/ha (1º ano), 2559 kg/ha (2º ano), 2594 kg/ha (3º ano), 2878 kg/ha (4º ano).
O aumento do efetivo pecuário deve ser ponderado face a outros factores como seja a qualidade dos pastos, nomeadamente no que diz respeito à existência de espécies perenes que possam dar mais fibra nas alturas de primavera, resistir melhor a maiores impactos, aprofundar as raízes no solo e resistir melhor à seca, aumentar o sequestro de carbono no solo, etc.
Em Mundos Nuevos, não alteraram o número de animais, já tinham 1300 cabeças de ovelhas merinas e continuam a ter nos cerca de 570 ha. A grande alteração foi a sustentabilidade da quinta, com o maneio holístico começaram a ter mais pasto, menos custos de produção e diminuir a quantidade de alimentação à mão de seis meses para um mês por ano.
Segundo Manuel Die, uma pastagem permanente deve ter cerca de 30% de perenes para obter um bom equilíbrio entre fibras e pastos verdes, ricos em azoto. Para instalar perenes são necessários longos períodos de descanso das pastagens. Uma vez que as gramíneas perenes estejam instaladas, então aí pode-se aumentar o efetivo de forma regenerativa e sustentável. Esta escolha e evolução pode e deve ser feita com análise caso a caso, dependendo da espécie e raça dos animais, entre outros factores.
A utilização da ferramenta do pastoreio dirigido optimiza a gestão das pastagens e pode ainda fazer aumentar a produção forrageira das pastagens. Estes efeitos dependem do estado inicial de cada pastagem bem como de muitos outros factores. Uma vez que ainda não existem estudos quantitativos com grandes amostragens e para territórios com condições de edafo-climáticas semelhantes não se pode fornecer um número médio de aumento de produção de forragem. Face ao aumento da produção da forragem, existe a possibilidade de aumentar o efetivo pecuário. No entanto, o aumento do efetivo pecuário deve ser ponderado face a outros factores como seja a qualidade dos pastos, nomeadamente no que diz respeito à existência de espécies perenes que possam dar mais fibra nas alturas de primavera, resistir melhor a maiores impactos, aprofundar as raízes no solo e resistir melhor à seca, aumentar o sequestro de carbono no solo, etc. Para instalar perenes são necessários longos períodos de descanso das pastagens (6 a 12 meses) intercalados com elevados impactos instantâneos. Uma vez que as gramíneas perenes estejam instaladas e a base esteja criada, então aí pode-se aumentar o efetivo de forma regenerativa e sustentável. Esta escolha e evolução pode e deve ser feita com análise caso a caso, dependendo da espécie e raça dos animais, entre outros factores.
Esquema ilustrativo do aumento da diversidade da flora quando se passa de um pastoreio extensivo para um pastoreio rotativo planeado com cercas pequenas. Fonte: Grass Productivity, Voisin, A. 1959
2.4 - Número inicial de efectivo para começar?
É raro uma exploração começar do zero e normalmente já existe e há uma transição para o maneio regenerativo.
No caso do Manuel Die, começou a interessar-se pelo maneio holístico em 2012. Manuel Die tem duas áreas em Herdades distintas, uma em Elvas onde são 500 ha e outra em Campo Maior com 200 ha. Para começar fez um agrupamento do gado e tinha 250/300 vacas, agora tem 400 e 0,5 CN/ha.ano. Durante o inverno/primavera uma manada de 240 vacas permanece cerca de um dia e meio em parcelas de cerca de 4 hectares. Uma manada de cerca de 80 vacas permanece cerca de um dia em parcelas de cerca de 1 hectare, na região de Elvas.
Para cada tipo de animal e raça, solo, precipitação, orografia e composição dos pastos é necessário ajustar o tempo, área e encabeçamento. O ponto de partida deve ser o de separar o mínimo possível os animais da mesma espécie para os manter num só grupo e assim ser mais fácil fazer a rotação planeada.
Outro ponto chave para começar a fazer o pastoreio dirigido é começar com um efetivo pequeno e ir aumentando naturalmente. Desta forma os animais, enquanto o efetivo é pequeno, podem ser treinados para respeitar as cercas mais facilmente, e depois à medida que aumenta, os animais imitam o comportamento dos outros, facilitando a aprendizagem dos animais e poupando grandes dores de cabeça e frustrações ao agricultor.
2.5 - Como gerir grupos de diferentes animais misturados?
Na Herdade das Defesinhas, Manuel Die juntou os vários grupos de vacas e tinha a parição concentrada, isso foi muito importante para agrupar as diferentes categorias de gado. Sacrificou um pouco a condição das novilhas, mas no total resultou, pois como referiu: “na natureza todos os animais andam juntos”. Quando estamos a falar de espécies diferentes de animais então, até onde sabemos, o trabalho complica-se. Isto porque, por exemplo, animais de maior porte (como: vacas, burros e cavalos) podem ser controladas com um único fio de choque a 90 cm de altura, mas para animais de menor porte (como: ovelhas, porcos e cabras) um só fio não chega. Logo será mais apropriado fazer misturas de animais de portes semelhantes, ou então arranjar cercas que sejam compatíveis com animais de diferentes portes (como: rede ovelheira fixa, cercas elétricas com malha ovelheira, ou cercas elétricas fixas com 3 fios a diferentes alturas).
Na herdade de Porcus Natura existem em maneio holístico vacas, porcos, ovelhas e cabras e são todos geridos de forma separada , embora integrados na mesma paisagem com sobreposição de de zonas de pastoreio na maior parte das áreas. Nas zonas de matos entram primeiro as cabras, depois as vacas e ovelhas.
2.6 - Qual a diferença entre pastoreio de alta densidade e pastoreio holístico?
O pastoreio de alta e ultra alta densidade são ferramentas do pastoreio holístico que têm como objectivo simular o efeito de manada (herd effect). O pastoreio de alta densidade consiste em colocar um grande número de animais na mesma parcela durante pouco tempo (Butterfield et al 2019). A título de exemplo, o Manuel Die, na Herdade das Defesinhas coloca 300 vacas em ¼ de hectare, a mudar 4 vezes por dia, apenas na Primavera, conseguindo assim criar um grande impacto e o pastoreio não selectivo. Mas este deve ser feito com moderação porque se for repetido muitas vezes na mesma estação aumenta muito a compactação do solo e faz o ecossistema regredir ao invés de regenerar, especialmente se a pastagem ainda tiver uma grande proporção de plantas anuais. Quando o sistema já começa a ser baseado nas perenes, então pode-se fazer mais vezes o pastoreio de alta densidade sem prejudicar tanto o solo.
2.7 - Que tipos de pastagem são mais adequados para que tipos de gado (e raças) para optimização do sistema/ecossistema?
As pastagens mais altas são mais indicadas para o pastoreio com vacas. Pastagens com ervas mais rasteiras (ou depois de passar as vacas) são mais indicadas para o pastoreio de ovelhas. As cabras podem ser pastoreadas em zonas com maior quantidade de plantas arbustivas, tais como silvas (Rubus spp.), sargaço e saganho (Cistus spp.), entre outras espécies, incluindo invasoras e exóticas, como mimosas (Acacia spp.), etc. O pastoreio com porcos é mais adequado em zonas de montado com bolota abundante e plantas herbáceas imaturas (os porcos não pastoreiam plantas já secas). Os animais podem ser encarados como ferramentas, e como todas as ferramentas são mais eficientes e podem ser direcionadas para fazer trabalhos específicos, dependendo do contexto e do objetivo de cada unidade de produção. Por exemplo: se tivermos uma zona de pasto alto, mas que tenham também arbustos, podemos primeiro passar as vacas e depois passar as cabras; se tivermos uma zona com muito cardos e que as ovelhas não consigam entrar, podemos passar as vacas durante alguns anos, para tombarem os cardos secos e reduzirem a sua população, e quando este objetivo for atingido começamos a colocar lá as ovelhas, já sem o risco de elas se picarem nos olhos e até cegarem.
2.8 - É possível fazer com todas as raças? Qual a genética mais adaptada a este pastoreio?
As raças autóctones apresentam uma elevada rusticidade e utilizam de forma eficaz alimentos de escasso valor nutritivo. Segundo Manuel Die, há que apostar futuramente numa seleção dos animais. É preciso mudar os genótipos já que as raças autóctones portuguesas adaptam-se bem a nível climático, mas são raças de trabalho, de pouca aptidão cárnica. E mesmo no caso das raças autóctones os animais foram habituados a comer rações. As mertolengas são uma hipótese mas são de difícil maneio. Manuel Die experimentou cruzar mertolengas com Angus, e agora está a apostar no cruzamento com o Native Angus. A nível da selecção de características, animais pequenos e precoces trazem vantagens, já que conseguem atingir as suas necessidades mais facilmente através do pasto. E para Manuel não se deve fazer seleção apenas com um fator, ou seja considerar por exemplo e precocidade, a aptidão cárnica, o maneio entre outros.
Em Portugal há já bastante informação sobre raças autóctones que pode ser consultada no Catálogo de Raças autóctones da DGAV (link).
Em Mundos Nuevos, utilizam ovelhas merinas, mas o rebanho deles já tinha várias décadas com uma alimentação baseada na suplementação, ou seja, agora é preciso selecionar animais mais adaptados ao pasto de forma a ter mais sucesso com este tipo de maneio. As raças mais indicadas para fazer o pastoreio dirigido são aquelas que são dóceis e fáceis de controlar, por um lado, e por outro lado que sejam rústicas e estejam adaptadas ao aproveitamento de fibras pobres em nutrientes sem perder muita condição corporal, e ainda que estejam adaptadas climaticamente.
3 - Planeamento: Parcelas, cercas, água e pastos.
3.0 Gestão Holística, Plano de Pastoreio Holístico, plano de pastoreio dirigido, plano de pastoreio regenerativo? O que são?
O Holistic Management é uma marca registada nos EUA e em alguns países do mundo. De acordo com o manual de Holistic Management de Butterfield, Bingham e Savory (2019), a gestão holística deve ser organizada em 4 partes: A) Planeamento fiscal holístico; B) Planeamento do pastoreio holístico; C) Monitorização ecológica holística; D) Planeamento holístico da terra/paisagem.
Respeitando o excelente trabalho da equipa do Holistic Management Institute e do Savory Institute, o seu trabalho foca-se na observação dos padrões e funcionamento da natureza e ecossistema e na inspiração de outros autores anteriores que se dedicaram ao mesmo estudo, como André Voisin com o livro Grass Productivity (1958) que cunhou o termo Pastoreio Racional, ou o Escossês Anderson em 1777. Neste sentido, para conseguir alargar o debate e o conhecimento além do produzido e sistematizado por estes vários autores, o movimento de agricultura regenerativa tem por vezes apelidado esta abordagem de pastoreio regenerativo, pastoreio rotativo ou pastoreio dirigido.
Imagem acima mostra a descrição de um Pastoreio Rotativo pelo estudioso da agricultura Escossês Anderson no ano de 1777.
A fotografia acima ilustra o conceito de Strip Grazing, apresentado por Voisin em Grass Productivity (1959). Imagens retiradas de Voisin (1959)
3.1 -Como se desenha um plano de pastoreio?
De acordo com Butterfield Bingham e Savory, os passos para planeamento do pastoreio são os seguintes (adaptado):
Criar uma tabela/calendário de pastoreio com as parcelas e os meses
Marcar informação importante:
Eventos importantes/condicionantes (ex. parição, férias de família, caça, turismo, etc)
Informação manada/rebanho. Cabeças Normais.
Períodos de exclusão obrigatórios
Padrões de pastoreio errados no passado
Parcelas disponíveis no momento do planeamento
Parcelas que necessitam tratamento especial
Avaliar produtividade de cada parcela
Calcular/definir períodos de recuperação necessários ( médio, mínimo e máximo)
Calcular período de pastoreio (médio) e para cada parcela
Definir parcelas e ordem de pastoreio ( com mapa)
Verificar o plano
Implementar, manter os registos e monitorizar
Rascunho de um plano de pastoreio rotativo por um agricultor no campo. Fotografia por André Voisin, em Grass Productivity, 1959.
O primeiro passo a dar para fazer o planeamento do pastoreio é fazer um diagnóstico (ou caracterização) da propriedade. Com isto procuramos saber as capacidades produtivas e características florísticas de cada parcela. Durante o inverno, quando a erva das pastagens ainda não está em condições de ser pastoreada, podem-se escolher “zonas de sacrifício”, onde os animais vão permanecer longos períodos e em que são alimentados usando a técnica de “bail grazing” (espalhando fardos nas parcelas para manter o pisoteio e fertilização de acordo com o maneio holístico). Deve-se perceber, dentro da herdade, qual a parcela que fica verde e em condições de pastorear primeiro, esta zona será o começo do planeamento de pastoreio. Por outro lado, é também essencial identificar quais os locais que se mantêm verdes até mais tarde pois essas serão as últimas zonas da rotação. Outro fator a ter em conta é o risco de incêndios, e para isto pode fazer-se primeiro o pastoreio nas faixas de gestão de combustível ou de fora para dentro, começando nas parcelas mais exteriores da herdade, e acabando nas mais interiores. Desta forma reduz-se a carga combustível nas fronteiras exteriores, o mais cedo possível no ano, criando uma barreira natural contra incêndios e diminuindo a sua propagação.
3.2 - Qual a dimensão ideal das cercas?
A Herdade das Defesinhas tem parcelas de cerca de 4 ha com 240 vacas por um dia e meio. Numa propriedade mais distante, parcelas de 1 ha com 80 vacas em períodos de 1 dia. No caso de Mundos Nuevos tem parcelas de 4 ha com cerca 1000 ovelhas por dia.
André Voisin em Grass Productivity (1959, pp346) refere que duas perguntas melhores são: Quantas cercas consigo ter sem demasiadas complicações? Ou, que sacrifícios/investimentos está disposto a fazer para ter o maior número possível de cercas? Segundo Voisin, quanto mais pequenas forem as parcelas maiores é a produtividade dos pastos, mas quanto mais pequenas mais desafiante é a sua gestão. Segundo Voisin, mais do que 2 dias de pastoreio numa parcela começa a originar perdas de produtividade significativas.
Se, no fim da Primavera, quiser um período de descanso de 36 dias, com um período de pastoreio de 1 dia, então precisa de 36 cercas de descanso mais uma a três, ou seja 37-39 cercas. Se o período de pastoreio for de 2 dias então bastam 18 cercas de descanso. Se o período de pastoreio for de 4 dias então bastam 9 cercas de descanso.
Segundo Manuel Die, durante a fase de crescimento vegetativo das plantas, estas não devem ser expostas aos animais durante mais de 4 dias seguidos. Isto porque a partir do 4º dia após terem sido comidas, as plantas começam a criar novas folhas, usando as reservas das raízes, e se os animais as comerem estão a “comer raízes”. Quanto maior for o descanso das parcelas, melhor.
No caso de Mundos Nuevos começaram com cercas elétricas mas acharam muito trabalhoso e começaram a investir em cercas fixas e apostar em reduzir os tamanhos das cercas fixas ao longo dos anos de 50 ha para 10 ha para 4 ha actualmente. Relativamente à forma das cercas, Juan e Pedro defenderam que é melhor as cercas terem uma forma mais quadrada do que retangular, para que o rebanho se sinta mais seguro e calmo e também por forma a diminuir o perímetro de vedação. Um bom fator é considerar que cada cabeça normal consome em média 100m2 de pasto por dia e a partir daí fazer os cálculos de tamanho das cercas e tempo de permanência.
3.3 - Na rede de abeberamento, que soluções, que aspectos a ter em conta, como planear?
No caso de Mundos Nuevos, houve um investimento numa rede de 60 charcas que permitem o abeberamento animal e foram desenhadas segundo os princípios do keyline design. As charcas, como as que se vêem na imagem abaixo, são alimentadas por sistemas de valas em desnível de 3% que permitem a condução da água da chuva.
Todavia, na outra propriedade de Pedro e Juan de Mundos Nuevos, os solos são mais permeáveis e não está a haver retenção suficiente da água nas charcas. Desta forma, utilizam os bebedouros portáveis com bóias, que são alimentados por uma rede de tubos circundante às parcelas.
O Manuel Die tem melhorado os bebedouros e salientou que os bebedouros portáteis são bons mas podem cair e virar e perder-se água por isso neste momento prefere bebedouros mais pesados. Para rotações diárias dos animais, o ponto de abeberamento mantém-se o mesmo durante 4 dias, tendo os animais acesso ao mesmo bebedouro durante este período. Volvidos estes 4 dias o bebedouro é movido para um novo ponto. Neste caso os bebedouros plásticos móveis são muito versáteis por serem fáceis de carregar e mover para outros pontos. No entanto, como foi dito acima, estes podem virar e perder-se a água. A rede de abeberamento, se a herdade não a possuir logo à partida, pode ser o investimento mais caro a fazer. No entanto existem algumas maneiras de a tornar mais barata, por exemplo não enterrando os tubos, desta forma não é preciso abrir valas e o preço sai mais em conta. A desvantagem de não enterrar os tubos é o do aquecimento da água. Para arrefecer a água em Mundos Nuevos, em alguns locais, colocam a água primeiro num depósito em altura e só daí é que vai para os bebedouros.
3.4 - Quanto tempo demora a pastagem a recuperar?
Dependendo do solo, temperatura, humidade do solo e altura das plantas, as pastagens podem demorar 90 a 30 dias de recuperação.
No caso de o objetivo ser a transformação de uma pastagem baseada em gramíneas anuais, para uma baseada em gramíneas perenes, então os tempos de recuperação terão de ser muito grandes (na ordem de 2 épocas de crescimento (2 primaveras)), seguido depois de elevado impacto animal momentâneo.
Quando as pastagens forem dominadas por gramíneas perenes então os tempos de recuperação são mais curtos, podendo-se entrar com o gado quando as folhas basais das plantas comecem a ficar amareladas. Outra opção é fazer o armazenamento da forragem no campo (por vezes chamado de “stockpiling”). Esta técnica consiste em deixar crescer uma percentagem da área de pastagem, vedando o acesso aos animais, de forma a que ela seque no campo e sirva de reservatório forrageiro para o verão, sendo gerida com suplementação de proteína. Juan e Pedro de Mundos Nuevos revêm o seu plano de pastoreio de 15 em 15 dias e tentam implementar tempos de repouso de 40/50 dias.
3.5 - Ovelhas e cercas eléctricas: como adaptar?
Alguns agricultores referem que as ovelhas não são sensíveis ao fio eléctrico devido à lã. Pedro e Juan Luis de Mundos Nuevos referem que obtiveram sucesso com fio elétrico, sendo no entanto necessário treinar primeiro as ovelhas. Recomendam que esta tarefa seja feita no inverno (altura em que o chão está húmido e a ligação à terra da electricidade se faz melhor) e dentro de uma cerca fixa, ou seja colocando fio eléctrico por dentro apenas para o efeito to treino. Após a aprendizagem as ovelhas já respeitam o fio elétrico e podem ser colocadas em campo com cercas elétricas. O desafio é o de manter sempre a rede elétrica a funcionar bem o que pode implicar o regar a ligação à terra. Quando elas verificam que a cerca já não funciona evadem-se e é necessário reiniciar o treino. Devido a esta dificuldade em Mundos Nuevos optaram por fazer eles próprios as cercas fixas (parcelas de 4 a 5 ha) com postes em metal por ser mais resistente ao fogo e de preço semelhante aos postes de madeira.
As vacas podem ser controladas com um único fio de choque a 90 cm mas ovelhas devem ter 3 a 4 fios de choque
4 - Finanças & Investimentos
4.1 - Qual o ponto de retorno económico?
Segundo Manuel Die, o investimento em cercas elétricas, pontos de água e canalização para a totalidade da exploração foi de 15 000 euros, nas duas herdades. Este foi pago nos primeiros dois anos, apenas com a poupança de alimento comprado para dar aos animais à mão, no verão. É de referir que neste caso a poupança de pastagens para o verão compensou. No caso do Porcus Natura, o investimento foi de 2500 a 3000 euros em cerca elétrica e Francisco considerou que o retorno foi muito rápido. Após começar com a praticar o maneio holístico, a melhoria da produtividade do solo, a transformação das infestantes em kg de carne e o factor de ter conseguido colocar mais 2 espécies animais no ecossistema foram vantagens claras. Para Francisco Alves, a faturação pode ter aumentado em 10%, todavia o balanço deve ser feito de forma considerando o aumento da qualidade de vida dos animais e da melhoria do solo.
4.2 - Qual é a mão de obra necessária para fazer a gestão do pastoreio?
Segundo Manuel Die, uma vez que se organiza o plano de pastoreio, as parcelas e os pontos de água, move o gado de 3 a 4 dias, não há trabalho acrescido.
Na herdade de Porcus Natura, duas pessoas a tempo inteiro são suficientes para fazer a gestão das vacas, porcos, ovelhas e cabras, gestão da água e ainda de uma cultura anual com um pivot de rega.
Em Mundos Nuevos são também apenas duas pessoas a trabalhar e a gerir 1300 ovelhas, porcos , gestão de água e ainda alguma venda directa ao consumidor dos enchidos e produtos da proprieade.
5 - Solo
5.1 - Melhorar a matéria orgânica e a biodiversidade no solo? Como optimizar?
A perspectiva do pastoreio regenerativo é a de regenerar pastagens saudáveis e produtivas dentro de um ecossistema saudável. Neste contexto, o aumento a matéria orgânica e biodiversidade do solo é feita através da própria rotação dos animais em curtos períodos de carga de animal intensiva combinados com longos períodos de descanso. A matéria orgânica no solo aumenta essencialmente através do aumento da quantidade, profundidade e permanência das raízes das pastagens permanentes no solo. Ao contrário de pastos anuais ou culturas forrageiras anuais em que o solo é arado e a matéria orgânica se oxida ao sol e desaparece do solo, bem como a microbiologia do solo, a aposta no melhoramento dos pastos permanentes com espécies anuais mas também espécies perenes, aumenta esta quantidade de matéria orgânica no solo. A contribuição da fertilização com nutrientes e micro-organismos, através da deposição dos excrementos dos animais, aumenta a biodiversidade no solo. Outras ferramentas podem ser usadas para estes fins. O primeiro é o de aumentar a humidade do solo, nomeadamente diminuindo o número de meses em que o solo está seco. Isto pode fazer-se com o aumento da densidade de árvores e ensombramento, em zonas abertas com arado de yeomans em keyline, valas e cômoro, faixas de corta-vento, mulch em curva de nível, gaviões, entre outros. A melhor combinação de soluções deve ser decidida em função de vários factores nomeadamente o clima. Para as zonas de clima semi-árido, para este objectivos aconselha-se aumentar a densidade de árvores e de coberto arbóreo, obtendo assim um microclima com menores temperaturas máximas, maior humidade no solo e maior disponibilidade de folhagem e de matéria orgânica, além da sombra para os animais e restantes serviços de ecossistema.
5.2 - Como se faz a gestão do pastoreio quando está chuvoso e o solo fica encharcado?
Na experiência de Manuel Die quando chove muito, é importante avaliar o tempo de permanência, pois teve um atraso quando fez pastoreio de ultra densidade neste cenário, que resultou na compactação do solo. Nestas condições deve-se colocar o gado em parcelas pequenas e durante pouco tempo, desta forma não se sacrifica tanto a pastagem. Outra curiosidade é que as pegadas dos animais, especialmente das vacas, depois de secas, servem de reservatórios de água e ajudam na infiltração e redução da erosão, porque criam muitos nichos e descontinuidades que impedem a água de circular com muita velocidade. Quando se tem pastagens de plantas perenes já há uma proteção do solo, o efeito do gado no solo encharcado não é tão relevante porque os solos são protegidos pelas raízes das perenes, estas atuam como um “colchão de carbono”.
6. Doenças
6.1 - A nível de gestão de parasitas. Como se pode eliminar o uso da ivermectina? Quais as alternativas?
Os desparasitantes, especialmente a ivermectina, têm um efeito destrutivo para os insetos coprófagos, nomeadamente os escaravelhos do esterco. Estes últimos desempenham a função vital de incorporar as bostas no solo, aumentando a matéria orgânica e microorganismos no solo, potenciando a regeneração.
Nas visitas às três herdades de Defesinhas, Porcus Natura e Mundos Nuevos, todos os gestores referiram que deixaram de usar invermectina de forma generalizada a partir do momento em que começaram a fazer o maneio holístico/pastoreio dirigido regenerativo. Este sucesso deve-se ao reduzido tempo de permanência dos animais em cada parcela (no máximo 4 dias) combinado com tempos elevados de descanso. Este tempo reduzido corta o ciclo de reprodução dos parasitas, não só através dos excrementos, solo e plantas mas também nas charcas e águas paradas.
A Herdade das Defesinhas faz de forma regular análises coprológicas para monitorizar as populações e apenas aplicar invermectina apenas quando necessário, e por fim apenas desparasita de forma sistemática os animais de recria e ao desmame. Contudo, nem todos os problemas devem ser resolvidos de forma preventiva, doenças mais graves como as de fígado não devem ser descuradas com risco de morte dos animais. No caso de Mundos Nuevos, há sucesso em alguns tipos de parasitas todavia continua a haver preocupação com a mosca Oestrus ovis.
Estes efeitos benéficos do maneio holístico não substituem o acompanhamento pelo veterinário.
7. Biodiversidade
7.1 - Que biodiversidade que se pode instalar para promover a instalação de insectos que aceleram a degradação da matéria orgânica deixada pelo gado?
7.2 - É possível controlar as espécies invasoras com pastoreio regenerativo? Como?
Antes de mais, é importante reavaliar se uma espécie é de facto invasora e quais as funções importantes ou potencialmente importantes que esta espécie pode estar a desempenhar sem estarmos a dar conta.
A esteva (Cystus ladanifer), por exemplo, não é uma planta invasora mas sim uma planta pioneira que cobre o solo quando este está num estado de degradação elevado ou desenvolvimento muito precoce. Tem a função de partir a rocha e cobrir o solo com matéria orgânica para assim criar condições para os seguintes estados de evolução, nomeadamente para floresta. É no entanto possível acelerar esta evolução para pastos com recurso ao pastoreio rotativo e regenerativo.
Em Mundos Nuevos para transformar um esteval em pasto permanente utilizaram primeiro um rolo cortante para desbastar a esteva, tendo depois descoberto que a alfaia mais eficiente eram três pneu de tractor dispostos na horizontal numa alfaia e usados para desbastar as estevas sem deixar os toços típicos do corta mato (ver fotos abaixo).
Arado dos pneus
Arado de rolo
Fotos de Eva Barrocas
Após o desbaste das estevas a única operação que foi feita foi a passagem das ovelhas de acordo com o maneio holístico e sendo complementado o alimento no local com fardos de palha ou feno. Passados três anos, sem qualquer tratamento adicional o resultado pode-se ver na foto abaixo em que se compara com a parcela ao lado onde foi passada a alfaia mas não existiu a passagem dos animais.
Mundos Nuevos, Retamal de la Llerena, Badajoz, Junho 2022. As parcelas da esquerda e da direita da imagem foram desbastadas de estevas altas ao mesmo tempo, três anos antes da foto. Do lado esquerdo não existiu pastoreio e a imagem mostra uma parcela de matos, essencialmente estevas e rosmaninho. A parcela do lado direito foi regenerada com pastoreio rotativo de acordo com maneio holístico. As ovelhas entraram sobre as estevas desbastadas e foi-lhes complementada a alimentação com feno (de acordo com a prática de “bale grazing”). O solo não recebeu nenhum tratamento nem foi adicionada semente. Foto: Eva Barrocas
Em Mundos Nuevos foi-nos também dado um excelente exemplo uma planta que era considerada “invasora” e deixou de o ser: a retama (link). Após anos e anos a lutar contra a retama, os irmão Pedro e Juan Luis Dominguez perceberam que a retama é da família das leguminosas (Fabaceae) e produz uma semente palatosa e nutritiva para as ovelhas no período do verão em que há menos pastos. As ovelhas também comem as suas folhas quando elas já estão adultas. Ao mesmo tempo elas fazem alguma sombra e mantêm alguma humidade adicional no seu sob coberto o que aumenta a produtividade e crescimento dos pastos até mais tarde.
Assim a retama, que era vista como uma “invasora” quando faziam culturas anuais forrageiras, passou agora a ser uma aliada forrageira arbustiva (e ainda corta-vento, fixadora de azoto e sumidoura de carbono nas raízes) nas pastagens permanentes. Agora em Mundos Nuevos, que se localiza na aldeia de Retamal de Llerena, já não se luta contra esta espécie.
Foto com Juan Luis Dominguez e grupo a visitar Mundos Nuevos. Em segundo plano observam-se duas retamas e atrás uma colina de pasto com muitas retamas. Foto por Eva Barrocas.
Em Porcus Natura, Francisco Alves tem utilizado as cabras para gerir uma zona de silvado, estando a obter bons resultados.
Gestão de arbustivas e antigo silvado com cabras Serpentinas em Porcus Natura e criação de pasto para ovinos. Foto: Eva Barrocas
Além das espécies não invasoras mas vistas por vezes incorrectamente como pragas, ervas daninhas ou invasoras, existem as espécies exóticas invasoras (link). Sendo palatáveis ou não os princípios acima podem ser usados para ajudar na gestão e regulação do papel destas espécies no ecossistema. Procuramos mais experiências de sucesso e insucesso para partilhar com os nossos leitores.
7.3 - Como transformar um esteval numa pastagem e qual o papel do keyline e maneio holístico?
A técnica de redil móvel parece funcionar, tal como descrito acima. Esta técnica consiste em cortar as estevas e depois colocar os animais a dormir nessa parcela durante um tempo determinado (aproximadamente 1 semana) para depois mudar o redil para uma nova parcela de esteva e assim sucessivamente. A alteração da microbiologia e fertilidade do solo, bem como a deposição de sementes, resultante dos dejetos animais, parece converter os estevais em pastagem. Outra técnica que parece promissora e é utilizada pelo Francisco Alves no Porcus Natura é o “bale grazing”, que é feita no inverno. Consiste em escolher uma “zona de sacrifício” para os animais estarem enquanto a erva no resto das parcelas está a crescer. Nesta parcela dá-se palha aos animais, palha esta que contém nutrientes e como tal esta zona vai sair enriquecida. Ou seja, esta zona de sacrifício pode ser uma zona pobre, ou com esteval que, através deste processo vai sofrer uma alteração positiva da sua fertilidade e microbiologia, permitindo a recuperação e o crescimento de todo o resto da herdade. Esta “zona de sacrifício” pode ser alterada de ano para ano, de forma a melhorar diferentes zonas da herdade.
Existem outras técnicas de transformação de estevais em pastagens nomeadamente com melhoramento do solo com calagem, fertilização e sementeira, mas também em montado com o desmatamento das estevas em faixas para criar sombra para plantar árvores e assim aumentar o sucesso da florestação. A desmatação em faixas pode por exemplo ser feita em keyline e combinada com valas e cômoro, aumentando assim o sucesso e produtividade da florestação.
Mundos Nuevos, Retamal de la Llerena, Badajoz, Junho 2022. As parcelas da esquerda e da direita da imagem foram desbastadas de estevas altas ao mesmo tempo, três anos antes da foto. Do lado esquerdo não existiu pastoreio e a imagem mostra uma parcela de matos, essencialmente estevas e rosmaninho. A parcela do lado direito foi regenerada com pastoreio rotativo de acordo com maneio holístico. As ovelhas entraram sobre as estevas desbastadas e foi-lhes complementada a alimentação com feno (de acordo com a prática de “bale grazing”). O solo não recebeu nenhum tratamento nem foi adicionada semente. Foto: Eva Barrocas
7.4 - Regeneração do montado e maneio holístico são compatíveis?
A conjugação da regeneração do sobro e azinho com a presença do gado é um desafio que exige que o agricultor observe e monitorize o impacto do encabeçamento e dos tempos de permanência que utiliza. Na Herdade das Defesinhas, segundo a observação do agricultor, a regeneração de azinho com mais de 1.5m continuou a desenvolver-se com o pastoreio de alta densidade. Todavia é necessário ter atenção à pressão que o gado pode fazer no renovo. Manuel Die opta, nas zonas com renovo, por fazer tempos de ocupação das parcelas menores do que uma semana e só vai com o gado às zonas de montado duas vezes por ano.
Na visita à propriedade de Porcus Natura, observámos as azinheiras com um óptimo estado de vitalidade e sem desfolhamento, ao contrário de algumas parcelas vizinhas com esteval e sem pastoreio rotativo, onde se observaram árvores em mau estado. Observámos também algum renovo e o mesmo resistindo ao pastoreio.
Herdade das Defesinhas com presença de renovo de azinho (Fevereiro 2022). Foto: Miguel Encarnação
Face à carência de estudos quantitativos, seria interessante estudar a quantidade e qualidade do renovo em parcelas geridas com Maneio Holístico. Segundo Fischer e colegas, quando existem árvores adultas dispersas na paisagem (fonte de semente) o pastoreio rotacional de curta duração e com longos períodos de descanso pode ter uma influência positiva na emergência de regeneração natural (Fischer et al., 2009).
É importante lembrar que o coberto arbóreo é um aliado do agricultor que faz pecuária extensiva. A presença das árvores pode ter um efeito de atenuação das consequências da desertificação e das alterações climáticas, tendo um efeito positivo tanto nas pastagens como no bem-estar animal (Nunes et al., 1999; Moreno et al., 2007; Dubert et al., 2014).
8 - Práticas culturais
8.1- Melhor semear ou usar pastagens naturais?
As pastagens semeadas podem ser permanentes ou anuais. As pastagens naturais têm de ser permanentes pois não se conseguem estabelecer bem logo no primeiro ano. Por princípio é melhor que as pastagens sejam permanentes e não anuais por vários motivos como menores custos de semente, mobilização, fertilização, maior resiliência face ao clima, melhoramento do solo. Dentro das pastagens permanentes podemos discutir se é melhor serem semeadas ou naturais, ou até se devemos ou podemos complementar as duas opções.
Do que pudemos apurar até agora, a maioria dos agricultores que aplicam o pastoreio dirigido e especialmente a filosofia do maneio holístico preferem usar as pastagens naturais por estas permitirem uma poupança significativa nos custos de fatores externos (sementes, gasóleo, fertilizantes) e desgaste das máquinas. Segundo Pedro e Juan Luis de Mundos Nuevos, onde chovem cerca de 350 a 400mm por ano, as pastagens semeadas são menos resistentes à seca e à fraca precipitação. Esta informação parece ser corroborada pelo estudo de Dias (2017) em que as pastagens permanentes biodiversas ricas em leguminosas não obtiveram melhores resultados do que as pastagens naturais em anos de seca. Por outro lado, em zonas ou anos com maior pluviosidade a sua produtividade parece ser maior (Dias , 2017).
Manuel Die está a experimentar uma técnica de sementeira de gramíneas perenes espalhando para alimentação dos animais, feno de plantas perenes que contém sementes, em faixas diretamente no solo. Desta forma espera que nos terrenos se comecem a instalar estas plantas.
Outra forma de combinar as pastagens naturais com as semeadas pode ser o da sementeira a lanço ou a sementeira directa, por forma a não mobilizar e destruir as pastagens existentes.
Outro benefício das pastagens permanentes é de constituírem um sumidouro de carbono através do carbono presente nas raízes no solo. As pastagens anuais ou semi permanentes, libertam esse carbono na atmosfera quando o solo é mobilizado (lavrado, gradado) para re-sementeira, perdendo-se assim todo o carbono.
8.2 - Como gerir o pastoreio com culturas permanentes?
O pastoreio no sob coberto de culturas permanentes como vinha, olival, alfarrobeiras ou pomares é uma prática cultural muito antiga. Para não ocorrer destruição das culturas, os animais devem ser pequenos ou mais baixos que a cultura ou entrar na zona em momentos não vegetativos. Segundo a experiência de Manuel Die, para não danificar as árvores, só as vacas juvenis ou de pequeno porte devem ser colocados nas plantações. Em Mundos Nuevos as ovelhas pastoreiam no olival beneficiando assim o olival da poda dos ladrões, bem como da fertilização proveniente dos animais. Isto ocorre num olival tradicional, mais elevado do que o olival intensivo.
8.3 - Devemos introduzir novas sementes mais adaptadas?
Nas várias visitas que fizemos, nenhum agricultor manifestou essa necessidade.
8.4 - Se houver disponibilidade hídrica (sistemas de rega como pivots) como se comporta o pastoreio dirigido? Quais as sinergias que se podem criar entre a rega e o pastoreio dirigido?
A rega é uma ferramenta que ajuda no pastoreio dirigido. Isto porque ao regar as pastagens ficam menos dependentes da chuva verdadeira, o que permite haver crescimento durante todo o ano hidrológico, maximizar a produção de forragem e diminuir os tempos de descanso das parcelas. A rega de Primavera-Verão permite também fazer culturas forrageiras adequadas a este período, como erva do sudão, beterraba forrageira ou abóboras, para alimentar os animais na época em que as pastagens naturais estão secas.
8.6 - Como aproveitar os animais para re-semear ao revirar o solo (mobilização pelos próprios)?
Numa experiência conduzida pelo Francisco Alves do Porcus Natura, os porcos foram utilizados para fazer a mobilização da terra antes de espalhar a semente e logo depois foi apenas preciso passar uma barra de ferro para enterrá-la. Colocou cerca de 80 porcas reprodutoras num espaço de 2 hectares durante 48 horas e foi rodando até a parcela em causa estar toda mobilizada.
8.7-Que monitorização constante fazer e como?
Segundo Allan Savory e colegas (Butterfield et al., 2019) é relevante cada agricultor começar um registo descritivo e periódico das condições da sua exploração ou unidade de gestão. O registo pode ser feito tendo em conta estes quatro pontos:
1 – Comunidade: fazer a descrição das espécies presentes e como estas estão agrupadas na paisagem; registo de alterações na composição florística da pastagem.
2 - Ciclo da água: avaliar a erosão nas estações húmidas, avaliar se existem zonas de acumulação de sedimentos de escorrência, avaliar a infiltração e avaliar os padrões de movimento da água e de encharcamento.
3 - Ciclo mineral: as fontes naturais de nutrientes das plantas são os minerais presentes nos solos, derivados das rochas e dos resíduos orgânicos. A avaliação do ciclo mineral pode ser feita indiretamente pela avaliação da presença de raízes a várias profundidades do solo, ph e composição mineral do solo, observação dos microrganismos ativos no solo e qualidade das pastagens.
4 - Fluxo de Energia: avaliação visual da cobertura da pastagem (há espaços entre as plantas ou há uma abundância de crescimento vegetal), avaliação do crescimento anual da pastagem.
Outra forma de registo complementar à descrição escrita podem ser as fotografias das parcelas em diferentes alturas do ano, que podem ser arquivadas juntamente com a descrição da paisagem.
9-Pastoreio regenerativo é aplicável na prática?
As visitas que fizemos à Herdade das Defesinhas, Porcus Natura e Mundos Nuevos mostram-nos que é aplicável na prática, gerível com a mesma ou menos mão-de-obra e também, de acordo com os próprios, rentável como actividade económica.
9.1-Como ensino os animais?
Os animais aprendem facilmente o sistema de gestão em pastoreio rotativo não sendo necessário ensino específico, excepto no que diz respeito às cercas elétricas. Para este fim ovelhas e porcos devem ser ensinados/habituados com o fio elétrico dentro de uma cerca fixa antes irem para o campo com vedação apenas eletrica.
9.3-Como começar? O gado introduz-se diretamente na pastagem ou fazer uma adaptação para iniciar o sistema?
O gado introduz-se na pastagem directamente. Se não existirem cercas, em algumas áreas o pastoreio rotativo pode ser controlado por cães treinados.
9.4 -Como lidar com a repulsa a determinados alimentos no pastoreio em culturas permanentes?
O pastoreio não rotativo faz com que os animais comam de forma selectiva. Quando os animais comem apenas as espécies que gostam as espécies que não gostam tendem a reproduzir-se mais, por maior vantagem competitiva e disponibilidade de semente, originando assim pastos de fraca qualidade com espécies que originam repulsa. No pastoreio rotativo, os animais não comem de forma selectiva o que origina pastos mistos e mais equilibrados, proporcionando também melhor digestibilidade. A repulsa deixa assim de ser um problema, sendo no entanto necessário manter a rotação para que os animais não fiquem demasiado tempo numa parcela.
10.Como se gere o pastoreio regenerativo?
Para maiores detalhes recomenda-se a leitura do livro Butterfield et al (2019), uma formação em maneio holístico e a partilha de conhecimento numa comunidade de prática ou grupo de interesse.
11. - Perguntas do 2º Workshop
● Qual o retorno do investimento em condições semelhantes ao território de intervenção?
Perguntamos a Juan Luís Dominguez de Mundos Nuevos, qual o ponto de retorno do investimento das vedações fixas e das charcas. A sua resposta foi bastante pragmática: “Nosotros no tenemos eso calculado, son demasiadas las variables que influyen y cambian según como lo enfoques. Yo diría que es imposible de responder, ¿como cuantificas tener o no tener agua en una finca? Nosotros tuvimos que llevar agua en una cuba con el tractor durante todo el verano del 2019, para el ganado. ¿cuánto vale tener agua un verano como este en 60 puntos para el ganado y la fauna silvestre, si lo comparas con tener 1 o 2? Es más fácil ordenar tus prioridades y ver el dinero del que dispones. Si tienes agua no necesitas charcas, si tienes comida no necesitas cercados. Pero si no tienes, ni comida ni agua, deberías emplear tus recursos disponibles a ambas cosas, que van de la mano. Cada cercado necesita un punto de agua, puede ser con charca o con bebedero y tubería. Igualmente el cercado puede ser fijo o móvil. Nosotros empezamos por lo móviles, y acabamos haciendo los fijos. Para empezar si no tienes dinero, puede ser un buen punto de partida, pero vas a gastar mucho en mano de obra, depende de las circunstancias de cada finca.(...)”
Para se obter uma resposta objectiva completa teria de se realizar uma análise custo-benefício, que dependerá também do contexto. Uma resposta financeira de retorno do investimento é possível de realizar mas terá sempre de assumir muitos pressupostos para qualquer comparação , dependendo assim sempre muito do contexto e valores a priorizar. A resposta fica para o futuro.
● É possível compatibilizar o plano de pastoreio regenerativo com o Plano Zonal?
O financiamento do PEPAC compreende a tipologia de apoio “Planos zonais agroambientais” que inclui a tipologia “Apoio Zonal Castro Verde, Vale do Guadiana, Piçarras e Cuba», que compreende a componente «Manutenção de rotação de sequeiro cereal -pousio/pastagens temporárias naturais». As regras deste apoio são descritas na Portaria n.º 54-A/2023 que pode ser encontrada no seguinte link: https://www.gpp.pt/index.php/pepac/pepac-regulamentacao .
Este apoio é apenas para agricultores que candidatem áreas de culturas de sequeiro, pousio ou pastagens temporárias, o que exclui as pastagens permanentes, estratégia principal do pastoreio holístico e regenerativo. Para receber este apoio, a utilização de cercas, a plantação de sebes arbóreas, bosquetes ou densificação arbórea está sujeita à aprovação da Estrutura Local de Apoio (ELA) ou entidade equivalente designada para o efeito pelo ICNF. Tal não significa ,no entanto, que uma parte da propriedade possa beneficiar deste apoio e outra não.
Existe, por outro lado, o apoio à “Gestão do Montado por resultados”, descrita também na mesma portaria, e que é aplicável para os agricultores com pastagens permanentes e montado, com um mínimo de 40 árvores por hectare.
● Como conjugar o gado com culturas permanentes no âmbito do maneio holístico?
Existem séculos de história de compatibilização do gado com culturas permanentes como sejam o olival,a vinha ou a fruticultura. Existem períodos no ano em que estes não são compatíveis o que implica existirem áreas diferentes na mesma propriedade. No inverno as ovelhas limpam os ladrões do olival, entram numa vinha sem a destruir e a mesma forma podem fertilizar várias culturas permanentes. Na primavera têm de ser excluídas da vinha mas já podem estar no montado ou no olival. O desafio é assim a permanência demasiado tempo e fora dos períodos adequados. Estes períodos podem ser definidos no Plano de Pastoreio. As cercas podem também um obstáculo à gestão das culturas permanentes e daí o planeamento inicial pode beneficiar esta conjugação para pensar desde o início a localização das cercas, pontos de abeberamento e mobilidade humana e do gado na paisagem.
● Qual o potencial do maneio holístico para a regeneração do montado? A regeneração arbórea observada na Herdade das Defesinhas, seria possível com gado não descornado?
As primeiras observações das herdades visitadas parecem indicar que sim. A passagem rápida do gado faz com que os animais comam principalmente pastagens herbáceas e não as árvores jovens. Ajuda se as árvores estiverem protegidas com uma rede protectora. No período de não-crescimento, os animais ficam também durante um curto espaço de tempo em cada local, o que aumenta o período de recuperação, benéfico para as árvores. Por outro lado, mesmo com uma permanência curta, uma dentada de um animal no ramo principal de uma pequena árvore, realiza uma poda que deforma a árvore e poderá atrasar durante bastante tempo o seu crescimento e formação. A deposição das fezes dos animais por toda a propriedade, típica do maneio holístico, contribuirá para a fertilização e melhoramento da qualidade e vida do solo. Existem diversos estudos que mostram que a exclusão de gado é mais benéfica para as árvores em comparação com um pastoreio contínuo. Não existem porém aparentemente estudos sobre esta comparação com um pastoreio holístico.
● A relação fibra/proteína nas pastagens deve ser complementada? E quando? Como equilibrar de forma natural a proteína e fibra?
Esta relação gira em torno do conceito da relação Carbono/Azoto (C/N), que é a forma como funciona o sistema digestivo dos animais mas também da quantidade de água nas pastagens. Em termos gerais os animais necessitam de proteína e fibra, sendo a fibra a fonte de carbono/energia, que só pode ser digerida na presença de quantidades adequadas de azoto/proteínas. A proteína é principalmente trazida pelas leguminosas (na forma de rações, grãos ou folhas) e pelas ervas jovens e verdes, e a fibra é trazida pelas matérias secas e celulósicas, como a palha e fenos secos ou matos. A relação fibra/proteína nas pastagens pode e deve ser complementada para assegurar uma boa condição corporal do animal. No inverno e primavera, quando as pastagens apresentam um grande teor de proteína (ervas jovens e verdes pouco lenhosas), e se observa que os animais têm as fezes muito líquidas, deve-se complementar com fibra. Quando, no verão, as pastagens apresentam um grande rácio fibra/proteína, por estar tudo seco e haver apenas palha, deve-se complementar com proteína. Existem épocas em que os campos estão em equilíbrio fibra/proteína, nomeadamente na Primavera (antes das pastagens secarem e quando ainda têm sementes), e no Outono (quando as ervas secas do ano anterior se misturam com as jovens plantas em crescimento). Existem formas naturais de equilibrar esta relação. Regra geral, as plantas perenes têm uma maior relação fibra/proteína, sejam elas gramíneas ou leguminosas perenes. Uma solução para o verão poderá passar por plantar arbustos e árvores leguminosas (retama, tagasaste, entre outras) nas sebes ou nas parcelas, de forma a que os animais possam aceder à sua proteína. Nos Mundos Nuevos, os irmãos Dominguez deixam as retamas nascerem livremente no seu terreno para que as ovelhas comam as suas sementes no verão e assim consigam um equilíbrio. Já Manuel Die promove as gramíneas perenes no seu terreno para que no inverno os animais tenham uma pastagem com maior teor de fibra. Uma outra forma de aumentar o teor de fibra no inverno e primavera, consiste em deixar alguns pastos em pé para que nesta altura os animais possam complementar a erva verde com ervas secas.
● É relevante adicionar espécies de plantas perenes nas pastagens?
Sim, existem espécies perenes mais resistentes à seca e com períodos de crescimento e produção de semente e proteína complementares às pastagens anuais, o que permite alargar o número de dias de pastoreio. Ou seja, têm potencial para complementar os pastos nos tempos de escassez. Alguns exemplos são o pastoreio da semente da retama no verão, e a utilização da tagasaste, ou freixos das bordaduras como forragem no verão. Os principais inconvenientes são; a dificuldade da sua instalação no campo, especialmente nas zonas mais expostas pois podem necessitar de rega nos primeiros anos e de proteção dos animais. Plantas leguminosas como a retama (Retama sphaerocarpa) e tagasaste (Cytisus proliferus) ou outras como o espinheiro da virgínia (Gleditsia triacanthos), a figueira da índia (Opuntia spp.), ou choupos, freixos, salgueiros, zambujeiros, amoreiras, medronheiros, canas e caniço, podem ser muito interessantes para a silvo-pastorícia. Uma técnica usada por Manuel Die consiste em cortar a palha de uma zona com grande quantidade de espécies perenes e usá-la como feno noutras zonas para que aí deixe a semente das gramíneas perenes.
● O controlo do mato pelo pastoreio é viável nas nossas condições, nomeadamente em declives acentuados? Que outras alfaias podem ser úteis?
Depende do tipo de mato. No caso das silvas e do sargaço parece ser possível usar os animais como ferramentas, jogando com a relação fibra/proteína. No caso das estevas, como já referido anteriormente pode-se passar com um rolo de facas para as baixar e depois usar esse espaço para colocar os animais a dormir e assim enriquecer o solo de tal forma que a esteva tenha dificuldade em competir com o pasto.
● Porquê começar o maneio holístico?
O pastoreio holístico promete ao agricultor :
● Reduzir a necessidade de comprar forragens para os animais em tempo de seca
● Reduzir custos (pela redução de consumos)
● Melhorar o solo (pela manutenção das pastagens, fertilização dos animais, gestão optimizada no tempo do pastoreio e carga a animal)
● Melhorar a saúde e bem-estar dos animais (sempre no campo, com menos parasitas, menos doenças e problemas decorrentes da vida em estábulo)
● Melhorar a qualidade da carne
● Melhorar o ecossistema (diminuir impacte no solo, diminuir emissões de CO2, diminuir poluição, aumentar biodiversidade)
● Melhorar a vida do agricultor (com menos vulnerabilidade aos preços de meios de produção, mais segurança, reconhecimento público do papel de sustentabilidade e regeneração da agricultura, mais rendimento)
● As cercas virtuais já são uma realidade possível?
Existem várias empresas no mercado que disponibilizam os equipamentos e serviços associados às cercas virtuais. Esta tecnologia é inovadora e recente pelo que ainda está em fase de melhoramentos e teste pelos agricultores. O projeto DesAgro realizado na Cova da Beira em Portugal (https://desagro-iot.pt/tecnologias/) apresenta um relatório técnico (link) de um destes produtos, sem ter no entanto um relatório muito detalhado sobre as limitações encontradas na utilização. Apresentam no entanto, como qualquer tecnologia, vantagens e inconvenientes que devem ser equacionados para cada realidade. Um dos factores que constituirá ainda algum desafio significativo será a margem de erro do GPS.
● Existe uma fórmula para definir encabeçamento incluindo área, tempo?
Sim. Existem vários métodos. Primeiro é necessário obter uma estimativa da quantidade de forragem presente na pastagem, para isso pode-se pegar numa corda de 4m, ir para a pastagem e com a corda descrever um quadrado 1m2 (1 metro de lado), depois corta-se a forragem presente nesse m2 e pesa-se. Consoante o estado de maturação, a forragem vai conter uma percentagem diferente de matéria seca (MS). Pode-se usar a regra de que as forragens verdes têm 20% de MS, enquanto que as totalmente secas possuem 100% de MS. Depois de saber o peso de MS que o m2 medido contém, faz-se a extrapolação para 1ha. KgMS/ha= 10000 x KgMS/m2
Sabendo também que em média os animais (bovinos, ovinos,
caprinos, equinos) comem cerca de 3% do seu peso em MS por dia, é necessário
então saber o peso em kg ou ton do rebanho, e para isso basta saber a média de
peso dos animais e multiplicar pelo número de animais. Sabe-se então a
quantidade de matéria seca que o rebanho consome por dia. Ou seja:
Consumo do rebanho/dia (tonMS/dia) = (Peso médio do animal (toneladas) x 0,03)
x Número de animais do rebanho.
Depois, fazendo a relação entre a forragem numa determinada pastagem e o que o rebanho ingere por dia, consegue-se calcular o encabeçamento ótimo e o tempo que os animais podem ficar em cada pastagem. Pode usar-se a ferramenta criada pelo projeto das Pastagens Regenerativas(disponível aqui), baseado na folha de pastoreio do Instituto Savory.
● Necessidade de saber mais sobre pastoreio com aves.
Para ir ao encontro desta necessidade realizou-se a Poultree, uma quinta com galinhas pastoreadas. Um relato sobre esta visita , com alguma informação e reflexões pode ser lido no seguinte link: https://pastagensregenerativas.blogspot.com/2023/04/visita-poultree-uma-quinta-com-galinhas.html . Um dos grandes benefícios importantes observados, é que o pastoreio rotativo dos frangos permite a Jose Luis Rubio eliminar completamente o uso preventivo de antibióticos, um dos grandes problemas na avicultura industrial.
● Necessidade de obter mais informações sobre espécies perenes (herbáceas, arbustivas e arbóreas).
Não existe suficiente literatura sobre este tema em Português, pelo que se justifica mais divulgação e provavelmente mais investigação. Encontrámos uma publicação relevante entitulada Perennial pastures for Western Australia onde se pode encontrar informação de várias espécies. (https://library.dpird.wa.gov.au/bulletins/1/ ). A procura de conhecimento continua…
Bibliografia
Butterfield, J., Bingham, S., & Savory, A. (2019). Holistic Management Handbook: Regenerating Your Land and Growing Your Profits. Island Press. https://doi.org/10.5822/978-1-61091-977-7
Voisin, A. (1959) Grass Productivity, Island Press.
Catálogo Oficial de Raças Autóctones Portuguesas, https://www.dgav.pt/wp-content/uploads/2021/04/Catalogo-Oficial-Racas-Autoctones-Portuguesas.pdf
Dias, N.F.A., 2017. Sown biodiverse permanent pastures rich in legumes as an adaptation tool against climate change. http://repositorio.ul.pt/handle/10451/27586
Dubbert, M., Mosena, A., Piayda, A., Cuntz, M., Correia, A. C., Pereira, J. S., & Werner, C. (2014). Influence of tree cover on herbaceous layer development and carbon and water fluxes in a Portuguese cork-oak woodland. Acta oecologica, 59, 35-45.
Fischer, J., Stott, J., Zerger, A., Warren, G., Sherren, K., Forrester, R.I., 2009. Reversing a tree regeneration crisis in an endangered ecoregion. Proc. Natl. Acad. Sci. 106, 10386–10391. https://doi.org/10.1073/pnas.0900110106
Moreno, G. (2008). Response of understorey forage to multiple tree effects in Iberian dehesas. Agriculture, ecosystems & environment, 123(1-3), 239-244. https://doi.org/110.1016/j.agee.2007.04.006
Nunes, J. D., Sá, C., Soares-David, T., Madeira, M., & Gazarini, L. (1999). Interacção entre o ciclo de nutrientes em montados de Quercus rotundifolia Lam. e as características do solo. Revista de Biologia, 17(1-4).