Monitorização do Keyline já a decorrer em Mértola, Castro Verde e Ourique

No passado dia 8 de Dezembro de 2022, ocorreu nas herdades piloto do Projeto Pastagens Regenerativas, em Ourique, Castro Verde e Mértola, uma ação de monitorização a cabo da empresa 2adapt (https://2adapt.pt/), consultora e parceira do projeto Pastagens Regenerativas.

Um dos principais objetivos deste projecto é aferir cientificamente, se a instalação de infra-estruturas de retenção e distribuição de água na paisagem, provoca realmente um efeito positivo na humidade do solo e quanto. Como é sabido o projeto está a testar a técnica do keyline (linha chave) usando os arados da marca HE-VA comprados pela CM de Mértola, tendo já feito passagens com este arado em 3 herdades-piloto, localizadas em Mértola, Castro Verde e Ourique.

 Fig 1: Passagem do arado em Castro Verde. Note-se como a passagem é paralela às valas mestras.

 Para então monitorizar o efeito desta técnica foram instaladas sondas que medem o potencial hídrico do solo. No fundo são aparelhos que se enterram a cerca de 20cm e que medem a facilidade com que as raízes absorvem água (potencial hídrico). É como se fossem raízes artificiais medindo a força que as raízes das plantas têm de fazer para retirar a água do solo. Espera-se que estas sondas fiquem a medir e enviar dados durante pelo menos 2 estações húmidas.




Fig 2: Sondas utilizadas na monitorização. Na ponta dos fios verdes estão as sondas a enterrar. A caixa branca encerra os aparelhos necessários ao processamento e envio da informação, e na parte exterior possui um painel solar que alimenta todo o processo.

 Como em qualquer experiência científica foi necessário definir áreas de tratamento, em que se instalam com charrua valas mestras em linha chave e depois se passa o arado paralelo a estas, e áreas de controlo, que é uma zona contígua ao tratamento em que não se faz qualquer intervenção e que tem características de solo, exposição solar e altitude semelhantes.

 

Fig 3: Sondas enterradas no solo.

 Cada módulo de monitorização contém 3 sondas, para produzir redundância, protegidas por uma gaiola, que serve para excluir os animais. Assim, não só protege fisicamente as sondas, como também vai permitir que na primavera se meça a biomassa produzida dentro das gaiolas. Em cada uma das 3 herdades piloto foram colocados 2 módulos de monitorização, um na zona de tratamento e outra na zona de controlo.

 

 Fig 4: Módulo de monitorização, com gaiola de proteção e sondas no interior, na zona de tratamento do piloto de Ourique.

 Como a monitorização só agora se iniciou não podemos para já afirmar com rigor científico que esta técnica terá realmente efeito na retenção de água e produtividade das pastagens. Podemos no entanto fazer observações empíricas.

 




Fig 5: As linhas castanhas que se observam na imagem constituem o complexo de valas em linha chave para reter a água que escorre na superfície do solo, e transporta-a das zonas de maior acumulação (linhas de água) para as zonas de mais secura (linhas de festo ou cumeada). Observa-se também na imagem um rebanho de ovelhas e protetores para auxiliar a regeneração natural das pequenas azinheiras.

 No dia em que se fez a instalação das sondas choveu intensamente nos locais em estudo, particularmente no piloto de Mértola. Tivemos a sorte de chegar ao terreno pouco tempo após um evento de chuva intensa, que nos proporcionou algumas evidências de que as técnicas em estudo estão a funcionar. Esta técnica parece ser particularmente eficaz a abrandar o escorrimento da água e a acumula-la nas zonas em que naturalmente escaparia, como se pode observar na figura 5.

 

Fig 6: Acumulação da água de escorrência numa vala em keyline na zona de cumeada.

 

Chocou-nos particularmente o efeito que a água teve em terrenos vizinhos que não a retêm: ali bem perto do piloto de Mértola encontrámos terrenos com enormes piscinas de água nas zonas baixas. Água essa que se fosse infiltrada mais acima no terreno, teria oportunidade de escorrer lentamente pelo solo, não provocando erosão, alimentando os rios com água limpa de sedimentos e saciando a cede as das plantas durante mais tempo.

  Fig 6: Mais um exemplo de valas a cumprir a sua função.

Com as alterações climáticas que já cá estão, vivemos maiores períodos de seca, seguidos de episódios intensos e violentos de chuva. As observações do dia 8 trouxeram-nos esperança de que pode ser possível abrandar a desertificação do território, caso mais e mais agricultores e agricultoras comecem a instalar este tipo de infraestruturas. Esperamos ver regatos, barrancos e ribeiras que correm limpos e durante todo o ano, e não linhas de escorrência com muita força que correm durante 1 dia, arrastam consigo toneladas de solo e podem ser um perigo para a vida humana.

 

Fim

 

Artigo por Miguel Encarnação. Revisão por André Vizinho

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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